
Antes do Primeiro Adeus
Na sala onde o sol se deitava em frestas,
as palavras eram flores não colhidas:
pendiam no ar, leves e desfeitas,
enquanto o tempo, em sombras, se comprimia.
Teu olhar, mapa de todas as respostas,
traçava rotas que eu não ousei seguir.
Nas mãos, o chá esfriava sua história,
e o relógio, sem ponteiros, insistia em fugir.
Sabíamos da maré prestes a vir,
do vento que carregaria a despedida —
mas fingíamos que a noite era infinita,
que a lua, complacente, não mentia.
Antes que o adeus rachasse o primeiro verso,
éramos dois sóis em eclipse silencioso:
quebrávamos o pão do universo,
e mastigávamos o eterno, saboroso.
Agora, na estante da memória,
resta o eco do que não foi dito:
um livro aberto na página vazia,
onde o nosso quase ainda habita.
maio 2025
© Julio Miranda

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