
Amor da Minha Vida
És o jardim que o outono não apaga,
cada folha caída — verso que se alonga
no vento que carregou tua fala,
eco de uma canção que o peito arranha.
Na mesa do café, o tempo escorre frio:
tua chávena vazia ainda desenha
o crepúsculo em que o “até logo” foi um rio
a separar duas margens de lenha.
Lembro-te na aspereza da noite estrelada:
a lua, cicatriz no céu, assistia
silêncios que a boca não dizia,
palavras que a pele escrevia em fúria calada.
Amor da minha vida, não me deixes
ser só memória de um rosto no espelho.
Que as estrelas, velhas cúmplices,
guarde teu nome em seu cortejo vermelho.
Se um dia a primavera voltar descalça,
trazendo em suas mãos sementes de aurora,
desfaz a névoa, quebra a garganta da porta:
encontrar-te será a única festa que faça.
Até lá, sou relógio sem ponteiros,
mapa de um corpo que o teu rio banhou.
Amor da minha vida, nos refúgios inteiros
só teu fantasma dança… e o mundo parou.
© maio 2025
Julio Miranda

Deixe um comentário