Amar-te Foi Um Erro Ortográfico

Na página em branco do meu peito,
escrevi “amar-te” com tinta de desejo,
mas a caneta falhou no trajeto,
e o coração ficou sem a sua borda.

O sujeito era eu no caso oblíquo,
o verbo mal conjugado no passado,
um acento que caiu no precipício
de um adjetivo mal declinado.

Rasurei a dor com borracha fria,
mas as marcas ficaram no papel —
cada sílaba uma cicatriz sombria,
cada vírgula um intervalo cruel.

O erro ortográfico agora chora
no canto escuro do meu dicionário,
diz que foi só uma letra fora
da frase que eu pensei ser o contrário.

Fecho o livro onde o “não” era “sim”,
a grafia do amor era um engano:
na lição que o destino escreveu para mim,
amar-te foi um erro de ortografia humana.

© maio 2025
Julio Miranda

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