
Alquimia do Rio
A palavra desagua, sempre,
em sílabas que não se calam —
cada letra é remanso e vertigem,
um leito que se abre
entre pedras e espelhos.
Não se leem os versos,
descem:
feitos de chuva e raiz,
atravessam o mapa do olho,
inundam as veias do silêncio.
(Alumia-se a margem
onde o olhar bebe a imagem —
o que era tinta torna-se caudal,
o que era voz,
assombro.) Segue a corrente, poeta:
no lábio do rio,
todo verso é passagem.
O que a escrita não diz
escorre, súbito,
na alquimia da página em chamas —
água e fogo
fundindo-se
em asas.
abril 2025
© Julio Miranda

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