A Melodia Vibrante do Ser

Não era som,
Era silêncio despertando.
Um fundo oceano quieto
Onde a primeira onda
Ainda era apenas desejo
De romper a superfície.
Até que a Alegria —
Leve, imprevisível —
Tocou a água com dedos de luz.
Ressoou.
Não como nota, mas como riso de estrela,
Uma gargalhada cósmica
Que fez o peito expandir-se
Em puro diapasão.
A Melodia nascia:
Vibração do instante
Convertida em canto.

Depois veio o Amor,
Não como acorde, mas como harmonia.
Dois instrumentos distintos
Achando a mesma frequência.
Não mais eu, não mais tu —
Um só campo ressonante
Onde os corpos são apenas
Cascas de um mesmo eco.
Os olhos, pautas invisíveis;
Os abraços, pausas necessárias
Entre um compasso e outro.
E no centro, pulsando:
ritmo ancestral
Do encontro.
Melodia vibrante
Tecendo-se nas veias.

Então a Paixão —
Fogo que não queima,
Mas funde.
Metal em forja divina,
Transformando desejo
Em linguagem direta:
O gemido que é prelúdio,
O suor que é partitura,
O tremor que modula
A escala do impossível.
Não é descontrole:
É maestria selvagem
Do corpo que conhece
Sua própria música sagrada.
Melodia vibrante
Em estado bruto de criação.

E quando a noite cai?
Ah, a canção não se apaga.
Ela desce ao osso,
Vira basso continuo
Sob a pele.
Alegria, o agudo cristalino;
Amor, o grave que sustenta;
Paixão, o ritmo que incendeia —
Juntos, compõem
A sinfonia do ser.
Vibração perene.
Não se ouve apenas:
Sente-se nas raízes do existir.

Porque tu —
Sim, tu —
És o instrumento e a música,
O sopro e o eco,
A Melodia Vibrante
Que o universo
Há tanto esperava
Para afinar
Sua própria voz.

© junho 2025
Júlio Miranda

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