A Geometria do Desejo Intocado

Entre o compasso e o vácuo,
traço um círculo perfeito
— órbita de um astro que não existe —
sua circunferência: fronteira
do que nunca se toca.

(Dois pontos no plano, infinitamente paralelos:
linhas retas que se alongam
sem se confessar colineares.
A distância entre eles é um teorema
sem prova.)

Ângulo agudo: vértice de um quase-encontro.
Medida exata do que poderia ser
— triângulo incompleto,
hipotenusa suspensa
no aritmético silêncio
das coordenadas.

Às vezes, desenho constelações
com estrelas que não se conectam:
polígonos abertos, fractais de luz
que o mapa celeste recusa nomear.
São signos do amor que se esconde
nas margens dos axiomas.

(Um espelho reflete outro espelho:
abismo euclidiano.
Neles, minha imagem e a tua
são retas paralelas
que o tempo projeta
em dimensões desencontradas.)

No caderno de esboços,
apago o último traço.
Deixo apenas uma equação
— x2+y2=∞ —
e chamo de poema
esta álgebra do quase.

© maio 2025
Julio Miranda

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

0
Would love your thoughts, please comment.x
Verified by MonsterInsights