
A Geometria do Ângulo Partido
O coração não é círculo perfeito
— é espelho cravado no rio,
refratando dois sóis
em ondas paralelas.
Um amor é fogueira na montanha:
calor que desenha contornos,
horizonte que se defende
na aspereza do vento.
Outro é maré noturna,
sal que sela a ferida,
abraço de algas em segredo
— navegação sem porto.
A sociedade ergue suas réguas:
mede ângulos, traça vereditos
sobre mapas que não entendem
a matemática das veias.
Condenam a raiz por bifurcar-se,
a lua por ter fases,
o peito que, em silêncio,
desenha duas constelações.
Nenhuma lei escreve
o nome dessa asfixia:
amar é também ser deserto
— e ter sede de dois oásis.
(Perdoa-me a crueldade suave das palavras:
até os versos sangram
quando o tema é a faca
que não escolhe seu próprio fio.)
abril 2025
© Julio Miranda

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