À Espera do Tempo

O tempo bateu à porta,
mas não entrou.
Ficou no limiar da sombra,
um viajante sem relógio,
com as horas descalças.

A porta rangeu segredos,
o vento trouxe mapas antigos:
folhas de outono,
calendários rasgados,
e o eco de um tic-tac distante.

Perguntamos-lhe das estações,
das marés, dos ponteiros cansados.
Ele sussurrou em cicatrizes:
“Carrego o peso do sol nas costas
e a lua presa no bolso.”

No umbral, dançou paradoxos —
velocidade e demora,
memória e esquecimento.
Deixou-nos um verso na cerradura:
“O agora é uma casa sem telhado.”

E partiu, sem fechar a porta.

abril 2025
© Julio Miranda

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

0
Would love your thoughts, please comment.x
Verified by MonsterInsights