
A Colecionadora de Ausências
Nas paredes, frascos de vidro opaco
Guardam o eco de um adeus não dito,
O peso do relógio parado no ar,
E o tremor das mãos que nunca se uniram.
Ela cataloga as pausas do mundo:
O intervalo entre o raio e o trovão,
A respiração suspensa antes do choro,
O instante em que a noite engole o verso.
Silêncio do relógio mudo,
Da lágrima que insiste em não cair,
Das cartas rasgadas na gaveta,
E dos beijos que viraram poeira.
Seu acervo é feito de sombras breves —
O que a boca calou, o tempo reteve:
Sussurros sem dono, palavras abortadas,
O vácuo entre estrelas já apagadas.
Dizem que em seus olhos mora um museu
Onde até o vento aprendeu a morrer.
E quando a morte a convidou para a dança,
Sorriu e se tornou a última peça.
maio 2025
© Julio Miranda

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