Valsa do Minho

Terra onde o granito impera,
chuva numa valsa sem fim,
frio temperado pelo mar…
Sempre de boca no coração.

O amor e ódio das gentes
amam-se incondicionalmente,
vastidões de verde no olhar,
contínuo, imparável, a ladrar…

A terra floresce humidade,
tornando as paredes negras…
Os seixos multiplicam-se,
as areias cintilantes esvaem-se.

A chuva valseja sem fim,
sente-se em música alada,
sombras fingidas,
máscaras de solidão…

O frio temperado pelo mar,
superstições de humildade.
O musgo invade os dias,
tecendo-os de silêncio!

Sempre de boca no coração,
afeto, solidariedade,
partilha da humildade…
Os sonhos emudecem,
intocáveis atravessam
um crescimento acelerado…

Fragmentos tímidos,
hostilidade de caminhos empedrados,
terra batida por pés descalços.
Setentrião dum país,
dor engolida sem queixume… Abismo no futuro,
infância perdida,
amigos alheios na distância…
Doces dias moídos,
tudo se retorce na senectude,
passado incumprido,
alma triturada nas mós,
moinhos perpetuamente parados…

Janeiro 2025
©Júlio Miranda

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