
Metáfora Perdida
Escondida na mente, uma pérola rara,
Metáfora breve, luz doce, preclara.
Em formas mutáveis, dançava ao sabor,
De sonhos e versos, de encanto e fulgor.
Um dia de lida, de urgente labor,
Roubou-me o instante, o seu terno valor.
E no outro dia, ao buscá-la em meu ser,
Em vão procurei, sem a poder rever.
Nos sítios óbvios, na concha do ouvido,
No cofre da mente, num canto esquecido.
Depois, no espaço onde o real se desfaz,
Em imagens surreais, onde o tempo é fugaz.
“Metáfora!”, gritei, com a voz a tremer,
“Onde te ocultas? Vem, faz-te ver!”
No jardim das Palavras, pensei, há de estar,
Mas perdi-me em trilhos, sem a encontrar.
Por sendas sem fim, num vórtice atroz,
Onde o eco respondia ao lamento da voz.
“Não sejas tão vão”, sussurrei para mim,
Mas a ânsia crescia, num aperto sem fim.
Das máscaras vazias do mundano real,
Fugi, tão cansado, num transe irreal.
Por entre memórias de rima e de paz,
Buscando a essência que o tempo desfaz.
À sombra da árvore, de tronco roído,
Onde o prisma desfaz o olvido tingido,
Sentei-me e escrevi, com lágrimas que brilham,
Versos refratados por memórias que trilham.
Um poema singelo, nascido da dor,
Chamado “Metáfora”, ausente amor.
Agora é só busca, lembrança e saudade,
Da pérola esquecida na vastidão do tempo,
Um eco de luz num eterno contratempo.
janeiro 2025
©Júlio Miranda
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