
Eclosão do Inefável
Um teorema dança no vazio,
geometria de silêncios —
o vulcão, alfaiate de lava,
cospe estrelas em códigos de fúria.
Súbita a música: partitura invertida,
notas que são fendas no tempo.
A saudade, polígono irregular,
corta a pele do infinito.
(Até o caos tem seu compasso:
espirais que desenham ausências,
mapas de um país imaginado
onde a luz é irmã da asfixia.)
Na página em branco, um cais
de navios feitos de vértices —
partem rumo ao epicentro
do poema que se recusa a nascer.
Ah, paradoxo! O inacabado
é a única forma perfeita:
pirâmide de versos truncados,
súplica sem altar, chama sem cinza.
E eu, sapateiro de metáforas,
calço os pés do abismo com sons —
a rabecão? Talvez seja o vento
rasgando a trama do possível…
…
(Um brinde ao caos que nos ensina a desenhar órbitas no escuro.)
fevereiro 2025
©Júlio Miranda

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