
O Teatro do Impossível
Sob cortinas de névoa e segredos,
o palco abre-se em sombras de desejo:
um amor que não beija os teus cabelos,
só os tece em poemas de devaneio.
Tua voz é a luz que a ribalta acende,
mas meus versos são gritos sem microfone.
Entre atores e aplausos, o tempo suspende
o que nunca será: minha mão na tua mão.
Encenamos um roteiro sem diálogos —
eu, plateia calada; tu, personagem.
Teu olhar é um véu entre mundos paralelos,
meu silêncio, um fantasma a rondar tua imagem.
Ah, quimera de gestos não vividos!
Dançamos sem tocar, num compasso invisível.
O cenário desaba em sonhos despedidos,
e o amor é um verso… eterno, irrealizável.
Mas no escuro da sala, após o terceiro ato,
guardo o eco do teu riso dentro do peito:
um teatro do impossível, intacto,
onde amamos, sem corpo, o que nunca foi feito.
abril 2025
© Julio Miranda

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