A Geometria do Silêncio

É o ângulo agudo da lua
cortando a voz do vento.
O gelo que desenha fractais no vidro
— memória branca de um grito
que nunca se desprendeu da garganta.

São retas paralelas:
o ontem e o amanhã se esticam
sem jamais se tocarem.
No meio, um círculo perfeito —
o eco de tudo o que não foi dito.

É a teia da aranha
medindo o vão entre duas ausências,
cada fio, um meridiano
de coordenadas invisíveis.
Até o vazio tem seu mapa.

É o losango da folha caída
marcando o chão de sombras oblíquas,
o triângulo equilátero da pedra
onde o musgo escreve
suas fórmulas verdes de espera.

São parábolas ao contrário:
o pássaro que voa e não canta
traça no ar a curva
de um silogismo sem premissas.
A raiz subterrânea calcula
o volume exato da semente em segredo.

E eu, aqui,
figura plana neste teu diagrama:
o ponto final que sangra
quando o silêncio
é a única equação
que não me ensinaram a resolver.

abril 2025
© Julio Miranda

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