
Revela-te
Revela-te
— como a aurora que desfia a noite
nos fios de luz do horizonte partido.
Mostra teu nome em silhuetas de vento,
na dança das folhas que o outono esqueceu.
Revela-te rio que canta na pedra bruta,
água que entoa segredos ao leito da terra.
Tua voz é raiz que rompe o asfalto,
verbo antigo escrito em sílabas de musgo.
Revela-te:
fogueira nas mãos do mendigo,
labareda que desenha mapas no escuro.
Cada chama, um verso teu não dito,
um eclipse queimando no peito do tempo.
Revela-te espelho quebrado na estrada,
cacos de estrelas ferindo a paisagem.
Até o vão tem tua face esculpida,
geometria de sombras onde te reconheço.
Revela-te —
não como mito, mas como o trigo
que se curva para semear o próprio canto.
Teu corpo, um alfabeto de cicatrizes,
a pele aberta em letras de sol e lua.
Revela-te agora, antes que o mundo
seja só um verso sem sujeito,
antes que o eco te chame de ausência.
Revela-te: o universo ainda é
um nome buscando tua boca para nascer.
abril 2025
© Julio Miranda

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