Teorema da Existência

Entre o abismo e o algoritmo,
um véu de números dança no infinito.
O enigma se enuncia em silêncio:
Existo, ainda que não me vejas escrito.

Sob o lápis que hesita, no papel imaculado,
a sombra da solução já foi traçada.
Antes da prova, havia um fôlego oculto,
semente de luz em equação não plantada.

Não se mede a raiz pelo seu fruto,
nem o mar pelo rio que nele desagua.
O que os axiomas guardam em seu luto,
a geometria do tempo desvenda nas águas.

Há caminhos que nunca se desenham,
mas persistem em dobras de espaço-tempo.
Como estrelas que ardiam antes da vela,
a existência precede seu próprio mapa.

Por isso, geómetra, não temas o vazio:
até o caos revela seu eixo implícito.
Onde a dúvida traça um labirinto,
o teorema respira — invisível, infinito.

(Poema-enunciado: em todo sistema fechado de incógnitas,
há pelo menos uma verdade que persiste, intacta,
antes da primeira pergunta,
depois da última resposta.)

março 2025
©Júlio Miranda

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

0
Would love your thoughts, please comment.x
Verified by MonsterInsights